Debruçar a minha atenção sobre o gesto faz-me perceber que este e o tempo estão intrinsecamente ligados, a nossa visão sobre o tempo altera-se quando pensamos sobre o gesto, o tempo abranda e por momentos vemos os movimentos em câmara lenta.
O Filósofo Byung-chul Han na obra “A sociedade do Cansaço” entende a sociedade atual, como doente, doente por excesso de positividade, entenda-se por ausência de pausa, pela exigência contínua sobre si mesmo, a crença de que somos sempre capazes de produzir, baseando a existência na ideia de que sim, é possível fazer, é sempre possível fazer. Falta-nos tempo, vivemos numa sociedade do positivismo em que não conseguimos parar para pensar, para experimentar, vivemos num ritmo frenético em que o nosso relacionamento com os outros, não passa de uma interconexão digital “A maturação é uma temporalidade que hoje, perdemos cada vez mais” (Byung-chul Han (2018) in “A expulsão do outro”, p. 12).
E foi com este pensamento introdutório, de um tempo acelerado, que, coloquei o gesto ao serviço do tempo, numa tentativa de desacelerar para refletir, experienciar e re-aprender a ver, o tempo como processo em movimento, “É a negatividade do parar, do deter-se, que permite ao sujeito ativo percorrer todo o espaço da contingência que se subtrai à mera atividade.” (Han,Byung-Chul (2014) in “A sociedade do Cansaço”, p.40)
Questiono-me sobre a necessidade de parar e refletir.
Existe aqui uma analogia entre a prática artística e o tempo, o tempo como condição constitutiva do indivíduo, o tempo que refere o período de execução da obra, a par do gesto, o gesto como registo do tempo e o tempo que permite a reflexão e o pensamento.
Á medida que o tempo passa, também o processo criativo se adapta às alterações que o tempo provoca, o que me interessa no final é o fluir do gesto, à medida que o tempo passa sem o frenesim do mundo contemporâneo, mas com o caminhar do tempo natural.
Fragments of a Gesture
Focusing my attention on the gesture makes me realize that this and time are intrinsically linked, our view of time changes when we think about the gesture, time slows down and for moments we see movements in slow motion.
The Philosopher Byung-chul Han in the work “The Burnout Society” says that current society as sick, sick due to excess of positivity, do to the absence of pause, by the continuous demand on oneself, the belief that we are always capable to produce, basing existence on the idea that yes, it is possible to do it, it is always possible to do it. We lack time, we live in a society of positivism in which we cannot stop to think, to experiment, we live in a frenetic pace in which our relationship with others is nothing more than a digital interconnection “Maturation is a temporality that we have lost today more and more” (Byung-chul Han (2018) in “The expulsion of the other”).
And it was with this introductory thought, of an accelerated time, that I put the gesture in the service of time, in an attempt to slow down to reflect, experience and re-learn to see. Time as a process in motion, “It is the negativity of stopping , of stopping, which allows the active subject to traverse the entire space of contingency that escapes mere activity.” (Han, Byung-Chul (2010) in “The Burnout Society”)
I wonder about the need to stop and reflect.
There is an analogy here between artistic practice and time, time as a constitutive condition of the individual, the time that refers to the period of execution of the work, along with the gesture, the gesture as a record of time and time allows reflection and thought.
As time passes, the creative process also adapts to the changes that time causes. What interests me, in the end, is the flow of the gesture, as time passes without the frenzy of the contemporary world, but with the progress of natural time.